Sou fã da Martha Medeiros. Admiro-a. Considero que ela seja uma das melhores cronistas do Brasil. É contemporânea, culta, sensível, autêntica.
Mas a crônica de hoje da Martha Medeiros, na Zero Hora, cujo título é "O Caso Rafinha", não me agradou.
E isso é muito, muito raro, para mim, em se tratando dos textos dela.
Detesto o CQC e todos os programas desse gênero, porque se trata de um tipo de humor muito pobre, e, nesse aspecto, concordo com a Martha quando afirma no referido texto de hoje, que é um humor que humilha, coisa de guri bobo. E é mesmo. E olha que eu me considero uma guria boba e tenho até receio de criticar a Martha, porque não tenho um milésimo do conhecimento e cultura que ela possui.
Acho que nem poderia estar me referindo à autora nesse tom de intimidade, de tanto que admiro Martha Medeiros. Mas leio os textos dela há tempos, quase me sinto amiga da autora. Hehehehehe!
Quem sou eu para criticá-la? Contudo, hoje me sinto autorizada para tanto.
Isso porque não achei nenhum exagero da Wanessa Camargo quando resolveu processar o Rafinha Bastos por ele ter afirmado, no meio das bobagens típicas do programa CQC, que ela é tão gostosa que ele "comeria ela e o bebê".
Também concordo com a autora quando afirma que toda mulher grávida se sente sacralizada, condição, aliás, adquirida pela própria postura de nossa sociedade cristã ocidental, que criou o mito da Santa Mãe, a partir de Nossa Senhora.
Mas a questão não é essa.
Não concordo com a autora em um ponto específico, quando ela diz que tal piada idiota foi dita no contexto do programa, e que não deveria ser interpretado com tamanha ofensa por parte da cantora.
Deveria sim!
Não sou apologista da indústria do dano moral, mas na condição de advogada, embora admita que tenho falhas como qualquer ser humano, luto sim por justiça social, por uma sociedade na qual o respeito pelo outro e por si sejam combustível de relações mais harmônicas e saudáveis. Quiçá, sejam o fundamento de uma nova cultura em nosso país, de ética e de autenticidade.
É inaceitável que este tipo de mídia tenha tanta audiência e divulgue posturas preconceituosas e vexatórias.
A questão não é a sacralização da maternidade, mas o respeito à mulher, principalmente àquela que se compromete a mudar toda a sua vida para dar vida a um novo ser.
Não foi uma simples piada, não.
Foi de muito, muito, muito mau gosto, extremamente ofensiva, desnecessária, aliás, como 99% do humor produzido no CQC.
E em nenhum contexto acho essa piada engraçada, dentro ou fora do CQC.
Não sou feminista, sou feminina. E ficaria muito ofendida se estivesse no lugar da Wanessa Camargo, sendo reduzida a um pedaço de carne em cadeia nacional.
Também não sou fã da Wanessa Camargo, sequer acompanho o trabalho dela, mas compartilho a indignação da ofendida.
Para mim, a postura de Wanessa Camargo contribuirá para que a produção e edição do programa, no mínimo, revejam a pauta.
E, por fim, achei o texto de hoje, no fundo, um pouquinho bairrista, no final das contas.
Amenizar a conduta do Rafinha só porque ele é gaúcho, sacam?
Nada a ver. E espero que a ideia não tenha sido esta, porque ouvi muitos amigos ficarem chateados porque o gauchinho saiu da pauta... Saiu porque mereceu.
Como mulher e como gaúcha, acho que ele desmereceu nosso Estado, inclusive, pois se espera tanto que os gaúchos sejam éticos e politizados, não é mesmo? Bem, isso também é outro mito, sobre o qual um dia irei escrever nesse blog, pois foi-se o tempo dos gaúchos politizados, fala sério...
Bueno, apesar de não ter gostado do texto de hoje, a Martha Medeiros continua sendo um modelo para mim, alguém que sempre irei admirar, porque, inclusive, achei extremamente corajoso da parte dela olhar o texto na visão do contexto.
Só uma cabeça muito arejada pra fazer isso, mas sabem, pra mim, quero mais é a extirpação desse tipo de afirmações!
Abaixo ao mau gosto humorístico e às guerras sexistas!
Um brinde ao respeito ao ser humano, por favor!