quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Flores do deserto



Domingo passado estava eu deitada na frente do sofá, já sofrendo aquela típica depressão de fim de "findi" (você sabe como é: o que me reserva a próxima semana = pânico!), quando após zapear pelos canais da tevê fechada, encontrei uma boa pedida: um filme que contava a história de uma mulher guerreira.
Gosto dessas histórias, de pessoas que têm muita coragem para buscar seu lugar no mundo.
Pois bem, o filme Flor do Deserto é sobre a biografia da modelo somali Waris Dirie, que atravessou de pés descalços um dos desertos da Somália, até a capital do país, e de lá foi para Londres. Passou seis anos trabalhando como doméstica na embaixada da Somália, em Londres, e com o fim da Guerra Civil naquele país, os diplomatas tiveram de voltar para lá. Waris resolveu ficar em Londres e buscar uma vida melhor.
Ela é linda, um estouro (agora estou parecendo uma "idosinha", né, "um estouro").
Sofreu muito, acabou sendo descoberta lavando o chão de uma lanchonete, e só pôde viver tudo isso porque foi ajudada por uma grande mulher, de coração bom, que ficou sua amiga e a acolheu em seu apartamento.
Mas, bem, até aqui, nada de novo. Muitas pessoas têm histórias de vida com grandes viradas, fruto da coragem pessoal combinada com um bom networking.
O que me mobilizou a escrever sobre esse filme é reflexão do final: quando a modelo dá uma entrevista para a Vogue, e responde quando foi o dia em que sua vida mudou, ela dá uma resposta inesperada.
Fala que sua vida mudou quando tinha três anos, e foi submetida à circuncisão feminina.
Em resumo, foi levada para o meio do deserto e uma mulher mais velha de sua tribo nômade removeu seu clitóris com uma lâmina (aquelas "giletes" que usávamos para apontar lápis, no tempo de nossos pais), depois removeu os pequenos e grandes lábios de sua vagina, e, para finalizar, costurou tudo, deixando somente um buraquinho para a menstruação... Depois, para tornar tudo ainda mais ultrajante, quando a mulher tem a menarca, é obrigada a se casar com quem seus pais mandam, e o maridão vai lá e corta a "costura", agora certo de que a mulher é virgem!
Waris nos faz refletir sobre o que é ser mulher.
E eu passei a refletir muito sobre isso...
É um costume bárbaro esse, que só pode acabar com os desejos da mulher de ser amada, de fazer amor, de ter prazer, mas vocês, amigos leitores deste post, nunca pararam para pensar que nossa sociedade ocidental também não reflete sobre o significado de ser mulher?
Quantas neuras ainda rondam sobre a sexualidade feminina, não sejamos cegos!
Não estou aqui querendo fazer apologia à promiscuidade, não pensem isso.
Mas acredito que cada mulher deve ter autonomia sobre seu corpo, autonomia total, deve entregá-lo com amor quando quiser, para quem quiser, ou nunca entregá-lo, se não quiser! Aí é que me refiro...
Gostaria de receber comentários de muitas mulheres e homens sobre este post, quero ouvir de todos o que significa ser mulher.
Este é um conceito tão belo, tão aberto e tão divino.
Ser mulher é ser uma flor, sim. Um abraço a todas as flores, principalmente a todas as flores do deserto, sem nome, sem cor, esquecidas e sofridas.
Compartilho compaixão por todas.
E para você, o que é ser mulher?

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