quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pequenos rituais para viver o presente

Esses dias eu fiquei pensando sobre como a gente atravessa a vida naturalmente sem perceber o momento em que uma fase acaba e outra inicia.
É mais ou menos assim: não dá pra precisar que até os onze anos e 364 dias você era criança, com doze virou adolescente, com vinte e dois adulto, etc., etc., etc.
Você se lembra do dia em que se deu por conta que não era mais criança? Esse dia existiu, por certo, mas aposto que você não celebrou, não fez um pequeno ritual, ou os adultos a sua volta também não fizeram.
Quase ninguém celebra essas coisas, e é por essas outras que a vida passa batido.
Nessas horas, admiro os índios: eles têm rituais para tudo.
Nasce um indiozinho, toda tribo cumprimenta os novos pais (até aí, bem, somos parecidos: a gente costuma visitar as novas mães e seus bebês no hospital).
O indiozinho cresce e vai para a primeira caça, mais um ritual.
A indiazinha tem a menarca, outro ritual.
E por aí vai.
A grande diferença é que os índios cultuam esses rituais de uma forma sacra, eles levam a sério, internalizam o momento. Curtem, simplesmente.
O nosso problema, como homens civilizados, foi banalizar tudo, achar que é só mais uma fase, só mais um momento.
Mas o que é a vida, afinal, senão uma sucessão de pequenos momentos importantes?
Eu mesma criei um pequeno ritual de celebração que mede três centímetros e me acompanha até o dia de minha morte: uma tatuagem no lado esquerdo das costas. Pensaram que era o quê, cabecinhas medonhas? hehehehehehhe!
Teve um dia em minha vida que eu estava sentada na sala de casa, lendo o jornal, e me caiu a ficha. Ou completou o download, como queiram, ultrajovens que estiverem lendo este texto.
Senti que a adolescência tinha acabado, eu já não era mais a mesma, senti que era uma mulher. Por tudo o que vivera, até aquele momento. Eu tinha 24 anos, neste dia.
Resolvi tatuar o ideograma chinês "mulher", marcando para sempre aquele momento. Pra mim, foi um instante muito rico.
Até hoje ouço piadinhas pela escolha do ideograma, do tipo, "ah, tá, se você não tivesse essa tatuagem, eu jamais saberia qual o seu sexo".
Que bobagem, mas eu entendo.
Entendo porque o momento era meu, e esse foi meu ritual de celebração.
Cada um pode ter seus rituais, mas seria tão bom para uma existência plena se todos os tivessem...
Pequenos rituais para viver o presente, para estar consciente.

Se for mergulhar, exija chamada!

Sim, este sábado eu passei na companhia do Bono, meu gato que não foi resgatado pelos Bombeiros, e da televisão.
É mais ou menos como aquela música do Capital Inicial "já estou tendo tevê como companhia...".
Mas não reclamo, porque me diverti, apesar da péssima escolha de filme "relax" para um sábado quentucho de mormaço que só faz aqui no Sul... Santa umidade!
Bem, o filme da vez foi Mar Aberto. O filme é ótimo, não me entendam mal, mas não é nada relaxante...
Para quem gosta de aventuras em alto-mar, como eu, é uma espécie de alerta.
É o seguinte: um casal resolve tirar férias em um daqueles paraísos tropicais e, após terem feito curso de mergulho, pré-férias (coitadinhos, pensaram em tudo...), embarcam para o alto-mar e, olha só que tri, o dono do barco erra na contagem de passageiros e esquece o casalzinho feliz no meio do Mar Aberto!!!
C-R-E-D-O!!! Nada pode ser pior. Ou pode?
Imaginem só, vocês olham para todos os lados e só veem água, água, água e... tchanam! TUTUBAS!!! Muitos tubarões famintos louquinhos para degustar perninhas de mergulhador...
É claro que poderia pior: virar uma isca humana.
Eles ficam cercados de tubarões! É horrível!
Têm hiportemia, passam fome, sede, embarcações navegam perto deles e não os veem, é a treva!
E o melhor: o filme é baseado em fatos reais.
E o pior: tem uma cena em que o casal está no hotel, o cara vem cheio de amor para dar para o lado da esposa, tipo, clima de férias tropicais, muito love, e o que a mulher diz? "Ai, amor, não tô no clima..."
Mal sabia ela o que o destino lhe reservava.
Por essas e outras o negócio é dar vazão ao amor, meus caros.
Eu já mergulhei três vezes em alto-mar e me lembro de ter sido realizada chamada apenas uma vez.
Felizmente, sempre voltei do mergulho antes de todo mundo subir para a embarcação, vai que me esquecem, né...
Vale a pena ver, mas dá um leve desespero, tipo aquela mesma música do Capital Inicial que já falei antes.
Indico!

Se nos anos 80 o celular fosse popular, o que seria do Cujo?

Gosto muito do Stephen King. O cara é o mestre do terror.
Algum de vós já assistiu ao Cujo?
É um filme bem TENSO, porque é daqueles que você sabe que, embora tenha todas as tintas da arte do cinema, poderia acontecer "na vida real". Ui, que medo!
O filme é baseado no livro homônimo de Stephen King, o qual, diga-se, é muito mais trágico, e bem mais assustador.
É a historia de um doce São Bernardo, chamado Cujo, que, após ser mordido por um morcego e ser contaminado por raiva, vira o capeta! Quem mandou não vacinar o bichinho?
Imagina um cachorro de, sei lá, 60kg-70kg, totalmente furioso? Com certeza, pode atacar um adulto e levá-lo a morte. E ele ataca, como ataca!!!
Mas, bem, assistindo ao filme, nas cenas finais, uma mulher e seu filho ficam presos dentro de um Ford Pinto amarelo (que pitoresco, né?), com o Cujo cercando-os do lado de fora, batendo no carro, quebrando os vidros, arrancando a maçaneta, e os coitados presos, indefesos e... INCOMUNICÁVEIS!!!! ELES NÃO TINHAM UM CELULAR!!!
Se Cujo fosse filmado nos dias atuais, no mínimo, a linha do celular deveria ser fornecida por uma daquelas operadoras maravilhosas que nunca têm sinal em lugar nenhum, ou o celular ficaria sem bateria, essas coisas.
Do contrário, uma ligação resolveria tudo, ou várias...
Se fosse no Brasil, várias, né? Já experimentou ligar para a Brigada Militar e contar que você está em apuros? Vai demorar para surgir alguém...
Bombeiros, então, iriam fazer o que fizeram comigo quando pedi ajuda para resgatar meu gato de cima de uma grade: "Moça, a Petrobrás está pegando fogo, se eu for tirar o seu gato da grade, todos nós vamos explodir". FALA SÉRIO! Cujo no Brasil, sim, seria assustador: um celular fora da área de cobertura, e, quando o sinal pega, ninguém vem te resgatar! Vai virar papá de au-au, galera!hahahahah!
Porém, desde que o Cujo passou a fazer parte do meu repertório cinéfilo, passei a respeitar meu celular. Como pude viver tantos anos sem você, maravilha da comunicação?
Um viva ao celular e a vacina anti-rábica!

Um pouco sobre bloqueios criativos

Nos últimos capítulos, eu entrei na fase de bloqueio criativo.
Nunca entendi muito bem essa coisa de criatividade estagnada.
Acho que tem muita relação com o fato de você estar desconectado com sua alma.
Alma, eu digo, no sentido de quem você é de verdade.
Quando estamos voltados demais para o cumprimento de expectativas alheias, é difícil manifestar alguma coisa que seja criação sua, única, gerada com os recurssos da tua imaginação, com base nas tuas vivências.
Não dá para criar com a cabeça cheia de "dever fazer algo".
Para criar, é preciso querer fazer algo, e depois assumir de forma comprometida a "criatura".
Criar é uma ação. Pode até nascer no pensamento, mas é preciso fazer algo para que a criatura surja, seja ela o que for: um texto, um jardim, uma casa, um filho...
É, talvez eu estivesse passando por um período meio introspectivo, muito mental, pouco resolutivo.
Estou aqui, de novo. Meus textos são a expressão máxima de minha criatividade, por enquanto.
Quem sabe eu não passe, de repente, não mais que de repente, a plantar? Ou dançar? Quem dirá...
Outros bloqueios virão, como as marés, que vem e que vão.
Não há motivos para crises.
Na vida, afinal, a única certeza é a mudança.
E vocês, como andam seus bloqueios criativos?

Minha primeira decepção com a Martha Medeiros

Sou fã da Martha Medeiros. Admiro-a. Considero que ela seja uma das melhores cronistas do Brasil. É contemporânea, culta, sensível, autêntica.
Mas a crônica de hoje da Martha Medeiros, na Zero Hora, cujo título é "O Caso Rafinha", não me agradou.
E isso é muito, muito raro, para mim, em se tratando dos textos dela.
Detesto o CQC e todos os programas desse gênero, porque se trata de um tipo de humor muito pobre, e, nesse aspecto, concordo com a Martha quando afirma no referido texto de hoje, que é um humor que humilha, coisa de guri bobo. E é mesmo. E olha que eu me considero uma guria boba e tenho até receio de criticar a Martha, porque não tenho um milésimo do conhecimento e cultura que ela possui.
Acho que nem poderia estar me referindo à autora nesse tom de intimidade, de tanto que admiro Martha Medeiros. Mas leio os textos dela há tempos, quase me sinto amiga da autora. Hehehehehe!
Quem sou eu para criticá-la? Contudo, hoje me sinto autorizada para tanto.
Isso porque não achei nenhum exagero da Wanessa Camargo quando resolveu processar o Rafinha Bastos por ele ter afirmado, no meio das bobagens típicas do programa CQC, que ela é tão gostosa que ele "comeria ela e o bebê".
Também concordo com a autora quando afirma que toda mulher grávida se sente sacralizada, condição, aliás, adquirida pela própria postura de nossa sociedade cristã ocidental, que criou o mito da Santa Mãe, a partir de Nossa Senhora.
Mas a questão não é essa.
Não concordo com a autora em um ponto específico, quando ela diz que tal piada idiota foi dita no contexto do programa, e que não deveria ser interpretado com tamanha ofensa por parte da cantora.
Deveria sim!
Não sou apologista da indústria do dano moral, mas na condição de advogada, embora admita que tenho falhas como qualquer ser humano, luto sim por justiça social, por uma sociedade na qual o respeito pelo outro e por si sejam combustível de relações mais harmônicas e saudáveis. Quiçá, sejam o fundamento de uma nova cultura em nosso país, de ética e de autenticidade.
É inaceitável que este tipo de mídia tenha tanta audiência e divulgue posturas preconceituosas e vexatórias.
A questão não é a sacralização da maternidade, mas o respeito à mulher, principalmente àquela que se compromete a mudar toda a sua vida para dar vida a um novo ser.
Não foi uma simples piada, não.
Foi de muito, muito, muito mau gosto, extremamente ofensiva, desnecessária, aliás, como 99% do humor produzido no CQC.
E em nenhum contexto acho essa piada engraçada, dentro ou fora do CQC.
Não sou feminista, sou feminina. E ficaria muito ofendida se estivesse no lugar da Wanessa Camargo, sendo reduzida a um pedaço de carne em cadeia nacional.
Também não sou fã da Wanessa Camargo, sequer acompanho o trabalho dela, mas compartilho a indignação da ofendida.
Para mim, a postura de Wanessa Camargo contribuirá para que a produção e edição do programa, no mínimo, revejam a pauta.
E, por fim, achei o texto de hoje, no fundo, um pouquinho bairrista, no final das contas.
Amenizar a conduta do Rafinha só porque ele é gaúcho, sacam?
Nada a ver. E espero que a ideia não tenha sido esta, porque ouvi muitos amigos ficarem chateados porque o gauchinho saiu da pauta... Saiu porque mereceu.
Como mulher e como gaúcha, acho que ele desmereceu nosso Estado, inclusive, pois se espera tanto que os gaúchos sejam éticos e politizados, não é mesmo? Bem, isso também é outro mito, sobre o qual um dia irei escrever nesse blog, pois foi-se o tempo dos gaúchos politizados, fala sério...
Bueno, apesar de não ter gostado do texto de hoje, a Martha Medeiros continua sendo um modelo para mim, alguém que sempre irei admirar, porque, inclusive, achei extremamente corajoso da parte dela olhar o texto na visão do contexto.
Só uma cabeça muito arejada pra fazer isso, mas sabem, pra mim, quero mais é a extirpação desse tipo de afirmações!
Abaixo ao mau gosto humorístico e às guerras sexistas!
Um brinde ao respeito ao ser humano, por favor!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A bela Prima Vera

Eu não sei quanto a vocês, meus caros, mas eu tenho um apreço especial pela Primavera.
Quando o finalzinho de Setembro vem chegando, parece que uma bela moça, a Prima Vera, vem me visitar.
Imagino a Prima Vera como um moça jovem, perto dos vinte anos, cheia de sonhos, de curvas já definidas, em um lindo vestido estampado (de flores, é óbvio), com um largo sorriso no rosto.
Não consigo imaginar uma Prima Vera homem, porque essa é uma estação sutil como uma mulher, e tão encantadora como só nós, mulheres, podemos ser.
Ela vem trazer a brisa fresca de sonhos renovados.
Ela vem trazer fertilidade para a Terra, e para nossos corações.
O Sol brilha, mas é gentil. Não queima, não arde, aquece, apenas. Com um pouco mais de intensidade, é claro.
Sei lá, parece que até o ar tem um som diferente, porque, afinal, tudo está desabrochado na nossa volta.
Eu ando pelas ruas e vejo pessoas mais soltinhas, caminhando pela manhã, quando estou indo para o trabalho. As árvores no caminho estão lindamente floridas, e até meu casal de periquitos australianos parece mais canoro...
Que sensação é essa... Talvez, renovação. Esperança. Ou, simples alegria.
Alegria das Flores! Eu tenho um apreço especial por essa minha Prima Vera!