segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Sobre livros de cabeceira



Bom, como o título deste blog é Daia Literaria,  há um sinal de que eu seja uma pessoa que aprecie literatura.
Confesso que já li muito mais, e literatura de qualidade. Clássicos da literatura brasileira, poesia, literatura estrangeira. E, óbvio, muitos bests sellers bem comerciais e bobinhos, porque a futilidade é ótima para o ócio criativo.
Atualmente, leio mais livros técnicos, e muitas e muitas decisões que me auxiliam a embasar minhas petições, em virtude da rotina de trabalho.
Mas, um leitor apaixonado, sempre é um leitor apaixonado.
Faz uns três anos que adotei um livro em particular como meu livro de cabeceira.
Leio e releio alguns contos que compõem esta obra, porque tenho uma identificação profunda com a temática deste livro.
A obra é "Mulheres que correm com os lobos - Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem", da psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés.
"Mulheres que correm com os lobos" entrou na minha vida em um momento muito especial, no qual me reunia com outras mulheres e podíamos falar sobre nossas angústias e alegrias, realizações e frustrações, e podíamos ser nós mesmas, santas e loucas, sem sermos que precisamos julgadas. Havia um grande pacto entre nós, de sinceridade e amizade pura. Acho que preciso retomar minhas idas ao círculo feminino.
Parêntese fechado, este é um livro que retrata, por meio de mitos e historias contadas, todas na base da oralidade, por séculos e séculos de rodas de conversa, sobre o universo feminino, e a busca de se compreender o que, afinal, é este complexo ser denominado mulher.
Recomendo para todas as mulheres que buscam entender o feminino.
O feminino não se confunde com o feminismo, eis que este é um movimento político de afirmação de direitos de um gênero.
O feminino é a essência da mulher, com todo o potencial criativo da alma feminina.
No livro, temos contos de origem nórdica, de origem latina, alguns bem famosos, como O Barba Azul e O patinho feio, e outros nem tão divulgados na nossa cultura ocidental, como Vasalisa, A sabida e A Mulher-Esqueleto.
Todos esse mitos são esmiuçados na obra, e a autora vai desvelando a boa e velha "moral da historia" pelo viés da busca da mulher por sua alma feminina.
A essas alturas, deve haver algumas pessoas se perguntando coisas do tipo "Mas, afinal, onde entram os lobos nessa historia? E quem é a mulher selvagem"?
Sinto em decepcioná-los, a Lupo não patrocina a edição, e não, não há mulheres de espartilho e meias Loba, ilustrando o livro, e nem dicas de como se tornar uma mulher devassa e avassaladora.
Como ser Devassa, aprenda com a Sandy Lima.
Não.
Os lobos entram na identificação da mulher com a loba, porque esta fêmea é muito semelhante em comportamento à fêmea humana, principalmente na dedicação aos filhos, ao companheiro e ao grupo. Porém, ao longo do processo civilizatório, a mulher foi se descolando destes instintos e sufocando muito de sua criatividade. Foi perdendo sua essência.
O livro foi construído com base em vinte anos de pesquisas sobre mitos, contos de fadas, lendas do folclore e historias escolhidas, para que a mulher, ao lê-lo, pudesse se reconectar com os atributos saudáveis e instintivos do arquétipo da mulher selvagem.
É, convivo muito com pessoas acadêmicas, cheias de lustro e pompa, que adoram citar argumentos científicos e tentam, o tempo todo, explicar os fatos da realidade por meio de teorias e blábláblás.
Bem, acredito que, como espécie, somos animais, com razão, por certo, mas com sentimentos e instintos. Com alma, com amor e emoções.
E a mulher, nesse contexto, é a parte sentimental, introspectiva, e possui sua própria beleza e mistério, o qual, muitas vezes, perde-se nas duras teorias e filosofias masculinas.
Todos os dias reflito em quão mais feliz eu mesma poderia ser se conseguisse deixar a mulher selvagem seguir o fluxo da vida. Se conseguisse guiar-me mais pela minha natureza atávica, equilibrando com tudo o que aprendi no processo civilizatório.
Tarefa difícil.
Como estamos encerrando o ano de 2014, sei lá, quem sabe essa não será minha meta para 2015?
Mais um leitura que recomendo, para toda mulher corajosa e buscadora de sua individualidade, e para todo homem que não tiver medo de adentrar na floresta com a La Loba.

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